domingo, 29 de maio de 2016




 VIVENCIANDO E APRENDENDO COM A MODALIDADE BOCHA
ESCOLA ESPECIAL M. ROTARY CLUB


            No ano de 2006 entrei no ensino especial após 3 anos trabalhando em uma escola de primeiro segmento do ensino fundamental na Vila Cruzeiro. Chegando à escola especial tudo era diferente e intrigante. Desde o início várias indagações surgiram, pois a realidade que eu me deparava era muito diferente de tudo que já havia vivido, pois além da experiência em escola tinha alguma prática com formação de equipes em Voleibol indoor e de praia.
            Uma atuação centrada em esportes, em gestual técnico, em melhoria do desempenho, nada disso caberia nesta nova situação. Percebia, em alguns alunos, uma compreensão das atividades, mas para outros era uma interrogação. Atividades simples se tornavam complexas e o que fazer? Esta era uma pergunta que eu me fazia!
            Resolvi então pensar em atividades que visavam à melhoria da condição física, principalmente alongamentos, mas meus questionamentos continuavam: Não sou fisioterapeuta! E ali era uma escola e que a necessidade era do pedagógico! E agora o que e como fazer? Meus alunos em sua grande maioria eram deficientes múltiplos e alguns já eram adultos. Como proceder? O lúdico também seria prioridade para a escola? Como desenvolver as aulas sem infantilizá-los?
            Comecei a procurar cursos e neste mesmo ano de 2006 após participar de um curso oferecido pelo Instituto Helena Antipoff tive contato com a professora Márcia Campeão e a partir daí conheci a Bocha Adaptada, foi paixão a primeira vista. De início percebi que a realidade retratada pela professora sobre os atletas da modalidade Paralímpica era muito similar a realidade dos meus alunos na escola especial. Pessoas com muito comprometimento motor. Novas indagações surgiram: Como posso obter o material (kit de bolas)? Será que essa nova proposta seria bem recebida pelos alunos e pela escola?
            Dei início a um processo de amadurecimento que em outubro do ano seguinte (2007) resultou na compra de um kit de Bocha Adaptada e um cano de PVC no qual adaptei para ser uma calha. A compra foi realizada, pois um grande amigo que via minha vontade me propiciou a compra do material. Novos cursos foram feitos, muitos deles no Instituto Helena Antipoff e o projeto saiu do papel, mas ainda bem tímido. A Educação Física da Escola Especial Rotary Club passava a brincar com a Bocha Adaptada.
            Quando cheguei com o material o que eu mais escutava era: O que são essas bolinhas? Pra que servem? Estranho esse cano? Como assim usar um cano para jogar? A apresentação para os alunos foi tranquila, difícil foi estabelecer as formas individuais que cada um jogaria. Mas o objetivo inicial era ter uma atividade que congregasse o maior número de alunos possível e isso foi acontecendo.
            De forma bem gradativa e leve, brincamos com as bolas, provamos seu gosto, sentimos o seu peso e a sua textura, rimos de vê-las rolarem, descobrimos que elas tinham cores diferentes, e quantidades também diferentes e iguais. Outra descoberta foi que poderíamos derrubar objetos com ela. Jogar dentro e fora, em cima e em baixo de coisas, ordenar por cores, alternar as cores formando uma grande minhoca. Criamos jogos juntos onde tínhamos que acertar as cores, as letras e os números. Descobrimos que era o perto e o longe. E ao final de cada aula deveríamos contar juntos todas às bolas para saber se todas estavam lá no estojo sem esquecer de nenhuma, pois o objetivo maior das aulas era esse, ter todos os alunos ali participando de alguma forma sem esquecer de nenhum.
            Assim o jogo foi sendo construído, alguns alunos foram solicitando e as regras da modalidade foram gradativamente sendo colocada em algumas aulas, sem perder o caráter lúdico. E assim foi nascendo o pedagógico, fomos entendendo conceitos, regras, percebendo o tempo de cada um.
            No ano de 2013 o Instituto Helena Antipoff por intermédio da Professora Ana Lídia implementa o Projeto “ Vivenciando e aprendendo com a modalidade bocha". Que satisfação, assim ganhamos novos ares, agora a Bocha estava oficialmente no currículo de Educação Física da Escola Especial Rotary Club.
            Nossa prática continuava caminhando e crescendo, mas agora tendo que ser mais sistematizada, registrada sempre que possível, mas, o mais importante era que  continuávamos brincando com aquelas bolinhas coloridas e aquele longo cano.
            A bocha para nossa escola se tornou o elo para várias situações, experiências, pois se fazia presente sempre, mesmo em situações pouco prováveis como em 2013 quando descobrimos o que era a Copa das Confederações e a bocha estava lá. Em 2014 trouxemos as mães para conhecer e jogar com seus filhos.
            Neste momento, meus questionamentos ainda existiam: - Como trabalhar para a inclusão? A única turma regular da escola possui uma idade bem diferenciada da maioria dos alunos das classes especiais. Foi neste momento que em um curso na Special Olympics conheci que eles denominam como esporte unificado. Apaixonei-me , pois era isso que eu sempre acreditei, pessoas jogando junto independente de possuir ou não uma deficiência. Quando descobri que a bocha também fazia parte do ranking de esportes fiquei louca. Eu tinha que conhecer! Quando surgiu a oportunidade fiz o curso.
             Agora mais uma questão: Como fazer isso lá na escola? E a primeira ideia foi trazer as mães e em 2015 conseguimos concretizar com a participação de 5 alunos e suas mães em um torneio da Special Olympics no Club Marapendi na Barra. Foi o maior sucesso, criamos a primeira “equipe” da escola, mas ainda não estava satisfeita pois, só foram 5 alunos e os outros? E aqueles que tinham mais comprometimentos?
            Pensamos em trazer uma escola para jogar conosco, mas qual? Foi quando aproveitamos um evento em comemoração da Páscoa onde um Colégio particular vizinho, todos os anos vem até a escola para confraternizar com nossos alunos. Perfeito!  Alunos do 6º ano do ensino fundamental. E assim foi, confraternização de Páscoa e a Bocha estava lá unindo dois universos a princípio bem diferentes. Não satisfeita fiz um convite para que em um novo momento eles voltassem e jogassem mais uma vez conosco, e para a minha surpresa o convite foi aceito. E o retorno gerou belos frutos, primeiro uma pequena carta confeccionada oralmente pelos alunos da Especial Rotary para os novos amigos e depois uma manhã de união entre duas escolas.
            Tivemos neste ano também a visita de alunos de graduação da UERJ, eram alunos de Licenciatura que vieram conhecer dinâmica da escola e a Bocha foi mais uma vez quem quebrou o gelo e aproximou as pessoas. Jogamos todos juntos e misturados.

            E para fechar o ano recebemos os alunos do colégio vizinho, só que agora foram os alunos do 9º ano do ensino fundamental e 1º e 2º anos do ensino médio. Dançamos e jogamos bocha juntos sem separar ou rotular os grupos. Quem tinha mais dificuldade era ajudado pelos que não possuíam tanta assim. E foi simplesmente fantástico a interação, tudo naturalmente fluindo. Ao final do encontro recebemos da escola visitante um resumo de frases com as percepções dos alunos sobre o encontro, estas frases postarei separadamente.

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