VIVENCIANDO E APRENDENDO COM A MODALIDADE
BOCHA
ESCOLA ESPECIAL M. ROTARY CLUB
No ano de 2006 entrei no ensino especial após 3 anos
trabalhando em uma escola de primeiro segmento do ensino fundamental na Vila
Cruzeiro. Chegando à escola especial tudo era diferente e intrigante. Desde o
início várias indagações surgiram, pois a realidade que eu me deparava era
muito diferente de tudo que já havia vivido, pois além da experiência em escola
tinha alguma prática com formação de equipes em Voleibol indoor e de praia.
Uma atuação centrada em esportes, em gestual técnico, em
melhoria do desempenho, nada disso caberia nesta nova situação. Percebia, em
alguns alunos, uma compreensão das atividades, mas para outros era uma
interrogação. Atividades simples se tornavam complexas e o que fazer? Esta era
uma pergunta que eu me fazia!
Resolvi então pensar em atividades que visavam à melhoria
da condição física, principalmente alongamentos, mas meus questionamentos
continuavam: Não sou fisioterapeuta! E ali era uma escola e que a necessidade
era do pedagógico! E agora o que e como fazer? Meus alunos em sua grande
maioria eram deficientes múltiplos e alguns já eram adultos. Como proceder? O
lúdico também seria prioridade para a escola? Como desenvolver as aulas sem
infantilizá-los?
Comecei a procurar cursos e neste mesmo ano de 2006 após
participar de um curso oferecido pelo Instituto Helena Antipoff tive contato
com a professora Márcia Campeão e a partir daí conheci a Bocha Adaptada, foi
paixão a primeira vista. De início percebi que a realidade retratada pela professora
sobre os atletas da modalidade Paralímpica era muito similar a realidade dos
meus alunos na escola especial. Pessoas com muito comprometimento motor. Novas
indagações surgiram: Como posso obter o material (kit de bolas)? Será que essa
nova proposta seria bem recebida pelos alunos e pela escola?
Dei início a um processo de amadurecimento que em outubro
do ano seguinte (2007) resultou na compra de um kit de Bocha Adaptada e um cano
de PVC no qual adaptei para ser uma calha. A compra foi realizada, pois um
grande amigo que via minha vontade me propiciou a compra do material. Novos
cursos foram feitos, muitos deles no Instituto Helena Antipoff e o projeto saiu
do papel, mas ainda bem tímido. A Educação Física da Escola Especial Rotary
Club passava a brincar com a Bocha Adaptada.
Quando cheguei com o material o que eu mais escutava era:
O que são essas bolinhas? Pra que servem? Estranho esse cano? Como assim usar
um cano para jogar? A apresentação para os alunos foi tranquila, difícil foi
estabelecer as formas individuais que cada um jogaria. Mas o objetivo inicial
era ter uma atividade que congregasse o maior número de alunos possível e isso
foi acontecendo.
De forma bem gradativa e leve, brincamos com as bolas,
provamos seu gosto, sentimos o seu peso e a sua textura, rimos de vê-las
rolarem, descobrimos que elas tinham cores diferentes, e quantidades também
diferentes e iguais. Outra descoberta foi que poderíamos derrubar objetos com
ela. Jogar dentro e fora, em cima e em baixo de coisas, ordenar por cores,
alternar as cores formando uma grande minhoca. Criamos jogos juntos onde
tínhamos que acertar as cores, as letras e os números. Descobrimos que era o
perto e o longe. E ao final de cada aula deveríamos contar juntos todas às
bolas para saber se todas estavam lá no estojo sem esquecer de nenhuma, pois o objetivo maior das aulas era esse,
ter todos os alunos ali participando de alguma forma sem esquecer de nenhum.
Assim o jogo foi sendo construído, alguns alunos foram
solicitando e as regras da modalidade foram gradativamente sendo colocada em
algumas aulas, sem perder o caráter lúdico. E assim foi nascendo o pedagógico,
fomos entendendo conceitos, regras, percebendo o tempo de cada um.
No ano de 2013 o Instituto Helena Antipoff por intermédio
da Professora Ana Lídia implementa o Projeto “ Vivenciando e aprendendo com a
modalidade bocha". Que satisfação, assim ganhamos novos ares, agora a
Bocha estava oficialmente no currículo de Educação Física da Escola Especial
Rotary Club.
Nossa prática continuava caminhando e crescendo, mas
agora tendo que ser mais sistematizada, registrada sempre que possível, mas, o
mais importante era que continuávamos
brincando com aquelas bolinhas coloridas e aquele longo cano.
A bocha para nossa escola se tornou o elo para várias situações, experiências,
pois se fazia presente sempre, mesmo em situações pouco prováveis como em 2013
quando descobrimos o que era a Copa das Confederações e a bocha estava lá. Em
2014 trouxemos as mães para conhecer e jogar com seus filhos.
Neste momento, meus questionamentos ainda existiam: -
Como trabalhar para a inclusão? A única turma regular da escola possui uma
idade bem diferenciada da maioria dos alunos das classes especiais. Foi neste
momento que em um curso na Special Olympics conheci que eles denominam como
esporte unificado. Apaixonei-me , pois era isso que eu sempre acreditei,
pessoas jogando junto independente de possuir ou não uma deficiência. Quando
descobri que a bocha também fazia parte do ranking de esportes fiquei louca. Eu
tinha que conhecer! Quando surgiu a oportunidade fiz o curso.
Agora mais uma
questão: Como fazer isso lá na escola? E a primeira ideia foi trazer as mães e
em 2015 conseguimos concretizar com a participação de 5 alunos e suas mães em
um torneio da Special Olympics no Club Marapendi na Barra. Foi o maior sucesso,
criamos a primeira “equipe” da escola, mas ainda não estava satisfeita pois, só
foram 5 alunos e os outros? E aqueles que tinham mais comprometimentos?
Pensamos em trazer uma escola para jogar conosco, mas
qual? Foi quando aproveitamos um evento em comemoração da Páscoa onde um
Colégio particular vizinho, todos os anos vem até a escola para confraternizar
com nossos alunos. Perfeito! Alunos do
6º ano do ensino fundamental. E assim foi, confraternização de Páscoa e a Bocha
estava lá unindo dois universos a princípio bem diferentes. Não satisfeita fiz
um convite para que em um novo momento eles voltassem e jogassem mais uma vez
conosco, e para a minha surpresa o convite foi aceito. E o retorno gerou belos
frutos, primeiro uma pequena carta confeccionada oralmente pelos alunos da
Especial Rotary para os novos amigos e depois uma manhã de união entre duas
escolas.
Tivemos neste ano também a visita de alunos de graduação
da UERJ, eram alunos de Licenciatura que vieram conhecer dinâmica da escola e a
Bocha foi mais uma vez quem quebrou o gelo e aproximou as pessoas. Jogamos
todos juntos e misturados.
E para fechar o ano recebemos os alunos do colégio
vizinho, só que agora foram os alunos do 9º ano do ensino fundamental e 1º e 2º
anos do ensino médio. Dançamos e jogamos bocha juntos sem separar ou rotular os
grupos. Quem tinha mais dificuldade era ajudado pelos que não possuíam tanta
assim. E foi simplesmente fantástico a interação, tudo naturalmente fluindo. Ao
final do encontro recebemos da escola visitante um resumo de frases com as
percepções dos alunos sobre o encontro, estas frases postarei separadamente.